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Pierre-Etienne Jay

Pierre-Etienne Jay entoa uma citação aos dias iniciais da fotografia, quando muitas vozes insinuaram que a pintura estava fadada a ceder espaço para a nova arte da cópia.

 

Todavia o retorno de Jay não restaura o nascimento da captura da imagem para saudar a constatação histórica. Sua menção atua a contrapelo da louvação ao situar a fotografia num espaço-tempo que a estabelece fora da jaula do mero copismo – ou melhor, ele se predispõe a negar a imitação da realidade.

 

Ali e acolá, sua criação investiga o palimpsesto puído por demãos de tinta descascada, dialoga com o alto-relevo emudecido, indaga a decrépitas cicatrizes infligidas pela ferrugem em qual época sua têmpera foi tenra como a pele do pêssego, ou em qual dia houve festa ao se tatear com a visão o encanto inaugural da hoje carcomida placa de cerâmica que teima em indicar o maltratado endereço deixado para trás pelo vaivém e pelo esmero humano.

 

Aliás, em seu álbum de inquietude a humanidade arquitetada em pele e osso brota apenas como elemento a compor a dupla paisagem – da natureza, da civilização. Numa afetuosa composição que exalta o lar, Jay adverte que o arranjo pode muito bem dispensar os rastros de floricultor e de carpinteiro. Quando os viventes humanos manifestam-se na ambientação não atendem propriamente ao apelo da inquirição fotográfica: a semovente aparição é tão fugaz quanto à espuma marinha, que beija em ondas a terra coberta por volumoso dossel de nuvens.

 

As esplêndidas nuvens arrebanhadas por Jay relembram às pessoas e a seus monumentos o quanto somos pequeninos! Ou o quanto podemos ser colossais quando não reduzimos a arte a covil de mentes cativas.

 

Texto: Adilson Vilaça

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