Gabriel Lordêllo
Gabriel Lordêllo, comparsa de Bianconi na Mosaico Imagem, desancorou a luneta de sua navegação desde a Ilha de Vitória até sossegá-la na calmaria das águas que abençoam a Bulgária.
Ali entreteve o âmago de ilhéu nos tons de malva dos crepúsculos portuários, no rio que desliza impulsionado tão apenas pelas sombras de pedra e de folhagens imaculadas, na comedida pantomima de anciãos que se entorpecem na cálida panaceia prometida pelas termas ou, para incendiário contraste, na fortuna de cores ofertada pela sombra de um quiosque que se abre a convite do mar translúcido; então, impelida pelo sopro do renque do filtro etílico, a folia policrômica enfim fulgura no aconchego da praia.
Além, o compasso de seu passo coteja a civilização soterrada com a que emergiu erguida por nova estirpe, que, altaneira, hasteia ao vento o moderno domínio simbólico anunciado por seus mantos sagrados.
A espreita de Lordêllo estende-se ainda a longo milharal dourado a alimentar com sua energia a fiação escravizada no horizonte sem fim dos dispositivos humanos. Ainda campestre, sob a proteção de uma guarida alaranjada, Lordêllo descortina uma conferência de abóboras certamente a tramar metamorfose que as embarque no destino da elegante carroça a transportar, do outro lado da rua, a diária aventura da fantasia citadina.
Depois, sem alarde, seu roteiro embarca na companhia de leitora seduzida pela viagem ao reino das palavras, onde o tempo se esvai como agulha em palheiro perdida numa relojoaria cujos ponteiros brincam de não obedecer a nenhum alinhamento cronológico.
Entretanto lá fora, observa a mirada do viajante, é tão densa a malva luz a recair sobre o templo que a fé, apregoada para mover montanhas, apanha o éter da cor saturada a fim de esparzi-lo no altar tingido pela algaravia do brilho icônico.
Texto: Adilson Vilaça